XIX


Relação da Viagem Aerostática feita nesta Cidade a 25 de Junho de 1820, por Mr. Robertson, filho
Maio 30, 2009, 4:35 pm
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Porto, 28/Junho/1820, Relação da Viagem Aerostática feita nesta Cidade a 25 de Junho de 1820, por Mr. Robertson, filho

“Tendo o Professor Robertson pai, recebido em Lisboa as mais lisonjeiras provas de geral satisfação em todas as suas experiências, que tiveram um feliz sucesso, julgou que não devia deixar Portugal sem oferecer à cidade do Porto o raro espectáculo de uma viagem aerostática. Todas as pessoas eruditas, que se achavam na mesma cidade empenhar-se-ão em favorecer uma subscrição para este objecto: anunciando-se esta experiência para o domingo 25 de Junho, e sendo destinada para celebrar-se a festa do nome de S.M. Fidelíssima Rei do Reino Unido foi desempenhada felizmente no dia referido na bela Quinta do Prado, que pertence ao Excelentíssimo e Reverendíssimo Bispo do Porto.

A chuva, que desde as dez horas até ao meio dia caiu repetidas vezes, fez recear que a experiência fosse diferida; mas ao depois, serenando a atmosfera, Mr. Robertson principiou às três horas o trabalho necessário para a formação do gás hidrogénio, e às 5 horas a máquina, inteiramente cheia esperava o Aeronauta.

O Professor Robertson tinha prometido a sua sobrinha, a esposa do jovem Malabar, o prazer de a deixar elevar-se, estando a barquinha presa por uma corda; por isso antes da partida de Mr. Eugénio Robertson ela subiu a certa altura. Esta jovem, desejando há muito tempo fazer uma viagem aerostática, tinha escondido um canivete, e uma carta no seu lenço, e intentava cortar as prisões, que a retinham: apenas o seu intento foi descoberto por Mr. Eugénio Robertson, que se assustou, e não queria ceder o seu lugar a pessoa alguma, lançou mão rapidamente da corda principal e conduziu o balão até ao recinto. Então esta Dama cheia de coragem saiu da barquinha e Mr. Eugénio Robertson, substituindo o seu lugar, sustentando-se em pé, e tendo na mão a bandeira portuguesa elevou-se majestosamente às 5 horas e meia bradando: ”Viva El-Rei; Viva D. João VI”; e, lançando várias peças de versos em honra da Nação Portuguesa, análogas a tão brilhante circunstância.

Elevando-se o balão, o quadro que se desenvolvia debaixo dos pés do aeronauta tornava-se mais interessante; pois que o Douro, correndo ao longe, já parecia esconder-se por entre as montanhas, já descobrir-se de momentos a momentos. O viajante por uma parte via o Porto como num pequeno quadro; mas sem perder a menor circunstância, por outra parte divisava ao longe verdes florestas, deliciosos jardins, e campos cercados de parreiras que atraíam e encantavam seus olhos, e qual uma serpente, que dá tortuosas voltas para entrar na sua cova, assim o Rio Ave parecia dirigir-se para o mar.

O objecto mais tocante, que o aeronauta observou nesta viagem, foi a vista de mar, que brilhava debaixo de seus pés, e lhe parecia incendiado por todos os lados, efeito da reflexão do Sol que se ocultava no horizonte, e que sem dúvida foi a causa do viajante não sentir na altura a que se remontou o frio activo, que de ordinário se experimenta.

Mr. Eugénio Robertson viu certa poeira, que se levantava da terra, e julgando serem cavaleiros, que vinham ao seu encontro, tomou o óculo para melhor observar; mas era simplesmente o declive de alguns montes de terra argilosa, feridos pelos raios do sol que já declinava.

O Aeronauta, depois de ter subido em meia hora a uma grande altura, e achando-se por cima de uma floresta, escolheu um sítio sem árvores, e apto para findar a sua viagem; ele o conseguiu descendo tranquilamente perto da freguesia de Ferreiro um lugar além do Rio Ave, distante uma légua de Vila do Conde, e 5 léguas do Porto. As primeiras pessoas que apareceram no momento em que tocou a terra o nosso viajante foram dois caçadores, que presenciaram as duas ascensões, que fez em Lisboa; depois chegou a cavalo o Ajudante das Milícias de Vila do Conde, Lima, que tendo descoberto o aeróstato da varanda da casa do seu Tenente Coronel se dirigiu com ele para o sitio, em que lhes parecia cair o balão.

O Viajante recebeu dos mesmos Senhores todos os socorros possíveis, e os maiores testemunhos de estima; e, depois de ter pernoitado em casa do Ilustríssimo Major das Ordenanças em Bagunte, para onde o conduziu seu Filho o Ilustríssimo Tenente Coronel António Luiz, entrou no Porto no dia 26 quase ao meio dia, recebendo em todos os lugares por onde passou imensas provas de grande satisfação, e os aplausos que sempre costuma excitar em toda a parte esta rara e maravilhosa experiência. Reinou por toda a parte a maior ordem e harmonia em tão imenso concurso, efeito das sábias ordens que foram dadas pelo Ilustríssimo Desembargador Encarregado da Polícia, e pelo Ilustríssimo e Excelentíssimo Tenente General, Governador das Armas. – A tranquilidade, o contentamento, e a boa ordem que resplandeciam por toda a parte, e esta experiência feita em tais circunstâncias, parecia terem tornado este espectáculo uma verdadeira festa. No mesmo dia da viagem o público à noite deu provas da afeição que tinha ao jovem aeronauta, mostrando apenas acabou o teatro a sua impaciência, e o desejo de tornar a vê-lo; porém, não lhe foi possível voltar na referida noite ao mesmo teatro, como tencionava, para cumprimentar a tão respeitável reunião, e mostrar-lhe a sua eterna gratidão.

NOTA: Mr. Eugénio Robertson pela observação do barómetro avaliou a sua altura num quarto de légua no momento da maior elevação.”

in Gazeta de Lisboa n.º 161, 10/Julho/1820



A tomada do Porto pelos franceses
Março 30, 2009, 12:34 pm
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«(…) Às 3 da manhã de 29 [de Março] tocou o sino a rebate; e entre as 5 e as 6 atacou o inimigo com a artilharia; assestando algumas peças contra S. Francisco, matando algumas pessoas na casa da guarda; mais para a esquerda, atiraram os Franceses com algumas granadas á linha, e isto pôs as ordenanças em confusão, e estas espalharam o terror por toda a linha.

Entre as 7 e as 8, era geral a retirada, e os fugitivos se recolhiam á cidade seguidos de muito perto pelos Franceses.

Não vi mais o General Parreiras; e soube depois que ás 7 horas passara a ponte e fora com o Exmo Bispo. Não se fazendo resistência alguma na cidade; nem havendo preparativos para defesa, uma partida da Legião, que vinha das baterias, e alguns soldados ingleses, capitaneados pelo Major Domingos Bernardino, se portaram com grandessíssima valentia; este oficial ficou levemente ferido e teve o seu cavalo morto debaixo de si.

O General deu ordem para que fosse cortada a ponte, que conduz a Vila nova; mas isto só se executou em parte, e ao depois, quando começou a retirada, e o povo queria todo passar pela ponte, se tornaram a por os pontões que se haviam retirado. Mal poderia exprimir a desordem e horríveis cenas, que vi, e posso dizer que centos destes desgraçados foram mortos no aperto, principalmente mulheres e crianças, e pessoas de inferior condição. Parece-me que os Franceses tinham bons guias, e escolheram donde faziam fogo aos botes, que atravessavam o rio com gente.

Avançaram à rua das Flores e rua Nova, onde uma partida da Legião se lhes opôs por algum tempo, e fez grande execução principalmente entre a cavalaria, mas sofreu muito, e viu-se obrigada a guarnecer o posto do mercado do peixe, e por fim cedeu á multidão do inimigo. Tomaram os Franceses posse da ponte, e havia nesse lugar duas peças debaixo do arco, os artilheiros fizeram fogo duas vezes; eu e o Major C – persuadidos de que tínhamos cumprido o nosso dever, cruzamos o rio n’um pequeno bote, por baixo de pesado fogo do inimigo; deixamos os nossos cavalos.

Indo para o Monte da Serra achei uma peça de seis, que atirava sem fazer bem algum, os que a manobravam não quiseram atender ás nossas representações, e mataram mais Portugueses do que Franceses. Tratei agora de retirar-me, estando certo que os Franceses ali chegariam em breve tempo. Eu e o Major marchamos a pé 3 léguas, no caminho de Ovar, onde me embarquei , e gastei 24 horas até Aveiro.

Sou obrigado a dizer a V. Exa que o povo, nesta infeliz retirada, me mostrou o maior respeito e atenção.(…)»

Carta de um oficial inglês, datada de Coimbra, 2 de Abril de 1809, in «Correio Braziliense ou Armazém Literário», Vol. II, Nº12, Londres, Maio 1809;



O Sino Mergulhador – Invenção Portugueza
Julho 31, 2008, 9:34 pm
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O Engenheiro hydraulico, que felizmente concluiu no Rio Douro a memoravel obra de extinguir o cachão de S. Salvador da Pesqueira, a 8 de Setembro de Setembro de 1786, na presença de S. Magestade e de toda a Real familia e de varios Ministros Estrangeiros, e de alguns fidalgos, e de uma immensa multidão de povo, exercitou defronte do Terreiro do Paço a operação de descer ao fundo do mar dentro de uma machina hydraulica, que lhe deixava as mãos e os pés em liberdade de fazer qualquer exercicio, e debaixo d’agua cantou com todo o socego varios hynnos e psalmos: o que o Principe nosso Senhor estando no seu escaler, por cima do sitio onde o dicto engenheiro se achava submergido, ouviu; como também as respostas que este deu ás perguntas que se lhe fizeram de cima d’agua. Daqui se vê não ser novo o invento de uma tal machina hydraulica communicada á convenção de París, segundo se annunciou no supplemento á Gazeta Nº2, pois que ha tanto tempo se viu praticado neste paiz.
Gazeta de Lisboa, 2º Supplemento á Gazeta Nº3. Janeiro 27 de 1795

Supplemento a que se allude

O cidadão Schimit mestre de instrumentos de musica deu ultimamente parte á convenção de ter feito em meccanica dois instrumentos uteis á humanidade. Um é uma machina hydraulica calculada para mergulhar na agua a qualquer profundidade: o mergulhador póde serrar, martelar, fazer buracos, segurar cordas, e ajuntar quaesquer cousas que se achem no fundo, soffer a compressão seja d’agua ou d’ar, podendo ao mesmo tempo fallar com quem estiver na superficie d’agua. 1º Supplemento á Gazeta. Janeiro 16 de 1795

in O Panorama, 29 de Setembro de 1838



ULTIMAS NOTICIAS DA CALIFORNIA
Julho 2, 2008, 9:31 am
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Eis o extracto da carta de um capitão de navio de Nantes dirigida a negociantes daquelle porto.
«Pela vossa carta de 10 de Julho vejo que não estais ao corrente do que se passa na Califórnia. Ordenaes a venda do navio, mas não por menos de 150,00 francos. Dir-vos-hei que actualmente se vendem aqui navios novos e até da primeira viagem de 1,000 a 1,200 toneladas, pelo preço de 4,000 a 5,000 piastras. Vi vender por 1,000 piastras uma baleeira de 600 toneladas, aparelhada para a pesca, e nova inteiramente, que só aqui veio largar passageiros, com tenção de seguir viagem para o noroeste da América.

Estes navios são alados para a terra onde vem servir de armazens.

De vinte embarcações, de bandeiras diversas, surtas agora na bahia, dois terços não tem fôlego vivo a bordo, e a outra terça parte apenas conserva alguns homens da sua equipagem. Logo que fundeam, a marinhagem quasi que não se dá ao trabalho de ferrar o panno, tanta é a pressa de desertar. E os marujos não desertam para as minas: vão navegar em barcos de cabotagem pelos rios, o que lhes é muito mais rendoso.

Posto que haja grande abundância de oiro, não se pense que se extrae com pouco trabalho e sem riscos. Ao contrario; de cada dezena de trabalhadores das minas, pelo menos morre metade: as febres e dysenterias fazem extraordinária devastação; e não póde deixar de ser assim, estando aqueles homens mettidos quasi sempre na agua para a lavagem do mineral, dormindo sobre a dura terra, sem abrigo, expostos aos nevoeiros cerrados, frequentes nesta região, accresce-lhes o abuso das bebidas espirituosas, e o uso da carne salgada, seu alimento quasi único.

Só os recem-chegados vão para as minas: depois de lá passarem alguns mezes, voltam enfermos, exhaustos pelas fadigas; então buscam na cidade trabalho que nunca falta. Toda a gente acha em que se occupe; e por isso as obras feitas há coisa de um anno parecerão fabulosas: so americanos nortistas são capazes de fazer tanto. Eu esperava achar uma pinhota de barracas de lona ou de madeira, assentadas ao acaso. Enganei-me. S. Francisco é uma cidade de 600,000 almas, bem arruada, com as cazas em linha recta; para o que se tem posto em pratica trabalhos de atterros e nivelamentos de toda a espécie. Lojinhas, e armazéns assaz pequenos arrendam-se por 600, 800, 1,000 piastras ao mez; os terrenos vendem-se a 90 piastras o pé quadrado.

É por esta rasão que vemos indivíduos que para cá vieram o anno passado sem anda ou com muito pouco de seu, desfructarem hoje um rendimento de 5 a 6 mil piastras por mez. A origem de todas estas fortunas provém dos terrenos. A especulação em mercadorias enriquece poucos: estão empilhadas na rua fazendas e géneros de toda a casta, expostos ás chuvas e ao sol, sem que ninguém lhe importe com isso, e até ás vezes ignora-se o dono dellas: são coisas incomprehensiveis, é preciso presenciar os factos para formar cabal idéa do que se passa nesta terra. Parece que nos achamos no meio de uma grandessíssima feira, onde todos andam em continuo gyro sem cuidarem mais que nos seus negócios.

A bulha dos carros e dos martellos, o borborinho da gente é capaz de ensurdecer; ninguém se entende com o ruído. Não obstante o immenso movimento vive-se em tranquilidade; reina a maior segurança pessoal no paiz; não se commetem roubos nem assassínios; póde transitar-se a toda a hora sem receio. Houve, é certo, vários crimes no principio da exploração; mas os anglo-americanos com a sua justiça expedita enforcaram os delinquentes, e d’ahi por diante desapareceram os delictos.

Além da cidade de S. Francisco, há quatro que se estão edificando mais perto das minas; avultam tanto as obras que já há falta de operários; os carpinteiros ganham por dia 12 piastras. Por tanto se continuar a achar-se o metal aurífero por mais dois annos, o que não offerece duvida, esta região será destinada a um futuro incalculável.

Há poucos dias que as fazendas sobre tudo de França, melhoram de preço. Os vinhos estão agora muito caros, ao contrario das aguardentes, que tem pouco valor: mas em anda se póde fazer firmesa, porque é grande e rápida a fluctuação de preços. A farinha que ainda não há 15 dias se vendia a rasão de 5 piastras, hoje está por 16 e 18 ditas; quem trouxesse agora do Chili algumas porções deste género fazia muito bom negocio.

Os pagamentos fazem-se todos á vista, e pela máxima parte em oiro em pó: só a alfandega exige moeda cunhada, que é rara. O preço corrente de uma onça de oiro regula por 16 piastras.

In Revista Universal Lisbonense, 14 de Fevereiro de 1850.



Cómicos
Julho 1, 2008, 3:12 pm
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A polícia do Porto mandou no domingo passado retirar uma bandeira verde e vermelha, com as armas portuguesas, mas sem corôa, que estava hasteada na Rua de S. Victor.
Sempre cómicos, senhores monárchicos!

In «O 31 de Janeiro», 16 de Abril de 1893



Incêndio
Maio 12, 2008, 4:27 pm
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Porto, 1 de Dezembro

No dia 28 do passado exhalaram os rebeldes a sua indignação pela vergonhosa sopreza que em seu campo fizeram as nossas tropas; e procuraram vingar a injuria recebida á força de bombas e ballas, disparadas contra a cidade. O convento de S. domingos foi incendiado por uma das bombas; e é de notar que uma grande parte do dia e da noite, em quanto os rebeldes viram pelo fumo e clarão das labaredas que o incêndio augmentava, não cessaram as suas baterias de atirar contra o edifício que ardia, a fim de poderem melhor empregar seus tiros na gente que suppunham empregada em apagar as chammas. Continuar a ler



DECRETO
Março 31, 2008, 9:36 pm
Filed under: Política

DO Prinçipe Regente de Portugal pelo qual declara a sua intenção de mudar a corte para o Brasil, e erige, uma regência, para governar na sua ausencia.

TENDO procurado por todos os meios possiveis, conservar a Neutralidade, de que até agora tem gozado os Meus Fieis, e Amados Vassalos, e a pezar de ter exhaurido o Meu Real Erário, e de todos os meus Sacrificios, a que me tenho sugeitado, chegando ao excesso de fechar os Portos dos Meus Reynos aos Vassalos do Meu antigo e Leal Alliado o Rey de Gran Bretanha, expondo o Comercio dos Meus Vassalos a total ruina, e a soffrer por este motivo grave prejuizo nos rendimentos da Minha Coroa: Vejo que pelo interior do Meu Reyno márchamTropas do Imperador dos Franceses e Rey de Italia, a quem Eu Me havia unido no Continente, na persuassaõ de naõ ser mais inquietado; e que as mesmas se dirigem a esta Capital: E querendo Eu evitar as funestas consequencias, que se podem seguir de uma defeza, que seria mais nociva que proveitosa, servindo só de derramar sangue em prejuizo da humanidade, e capaz de accender mais a dissençaõ de umas Tropas, que tem transitado por este Reyno, como annuncio, e promessa de naõ commmeterem a menor hostilidade; conhecendo igualmente, que ellas se dirigem muito particularmente contra a Minha Real Pessoa, e que os Meus Leaes Vassalos seraõ menos inquietados, ausentando-Me deste Reyno: Tenho resolvido, em beneficio dos mesmos Meus Vassalos, passar com a Raynha Minha Senhora e May, e com toda a Real Familia, para os Estados da America, e estabelecer-Me na cidade do Rio de Janeiro, até a Paz Geral. E considerando mais quanto convem deixar o Governo destes Reynos naquella ordem, que cumpre ao bem delles, e de Meus Povos, como cousa a que taõ essencialmente estou obrigado, Tendo nisto todas as consideraçoens, que tal caso Me saõ presentes: Sou servido Nomear, para na Minha Ausencia governarem, e regerem estes Meus Reynos, o Marquez de Abrantes, Meu muito Amado, e Prezado Primo; Francisco da Cunha de Menezes, Tente General dos Meus Exercitos; o Principal Castro, do Meu Conselho, e Regedor ds Justiças; Pedro de Mello Breyner, do Meu Conselho, que servirá de Presidente do Meu Real Erário, na falta e impedimento de Luiz Vasconcellos e Souza, que se acha imposibilitado com as suas molestias; Dom Francisco de Noronha, Tenente General dos Meus Exercitos, e Presidente da Meza do Comercio e Ordens; e na falta de qualquer delles o Conde Monteiro mor, que tenho nomeado Presidente do Senado da Camara, com a assistencia de dous Secretarios, o Conde de Sampaio, e em seu lugar Dom Miguel Pereira Forjaz, e do Desembargador do Paço, e Meu Procurador da coroa, Joaõ Antonio Salter de Mendonça pela grande confiança que de todos elles Tenho, e larga experiencia que elles tem tido das cousas do mesmo Governo; Tendo por certo que os meus Reynos, e povos seraõ governados e regidos por maneira que a minha consciencia seja desencarregada; e elle Governadores cumpram inteiramente a sua obrigaçaõ, em quanto Deus permitir que Eu esteja ausente desta Capital, administrando a Justiça com imparcialidade, distribuindo os premios e castigos conforme os merecimentos de cada um. Os mesmos Governadores o tenham assim entendido, e cumpram na forma sobredicta, e na conformidade das instrucçoens, que seraõ com este Decreto por Mim assignadas; e faraõ as participaçoens necessarias ás Repartiçoens competentes. Palacio de Nossa Senhora da Ajuda, em vinte e seis de Novembro de mil oitocentos e sete.

com a Rubrica do Principe N. S.

in «Correio Braziliense», Londres, 1808



Correspondencia
Março 25, 2008, 12:10 am
Filed under: Política

Lisboa, 3 de Junho, 1817

Senhores Redactores do Investigador Português; –

«(…) Há leis para obstar a Contrabando; e o Contrabando em todos os Domínio de Sua Magestade he o mais extenso, e escandaloso que nunca se vio porque as providencias do Legislador se naõ executaõ. Sem sahir de Lisboa; naõ he por exemplo, em fazendas que saõ de grande valor, bem que de pequeno volume, como rendas, e cambraias de França, que se faz contrabando: he em carregações de louça, em pipas d’agoa-ardente, em grandes fardos de fazenda, he em tudo, dentro, e fora da Alfandega; e o Publico ainda naõ vio punido conforme as Leis hum só transgressor, hum unico Empregado da Alfandega, onde a delapidação he a mais descarada e impune.

Quasi todas as Administrações publicas estão sobrecarregadas de Empregados, dos quaes hum terço seria de sobejo; nem he a primeira vez, que se tem criado lugares novos, escusados, e até prejudicadissimos, para acommodar protegidos. Cada Repartiçaõ tem o seu Regimento; porque fatalidade se naõ cumpre?

Muitos Empregados em Administrações, sem bens patrimoniaes despendem dez, e vinte vezes mais do que os ordenados, e emolumentos, que lhes competem. O publico o vê com indignaçaõ, e escandalo, e sabe donde lhe vem: porque naõ se punem exemplarmente taes empregados?

Ha hum excelllente Regimento realtivo aos Paues do Reino; e outro a respeito dos Paues de Santarem, nos quase se encontra o amor da Agricultura, mui boas providencias contra os estragos das cheas, sobre direcçaõ dos reparos, e tapumes; sobre o cuidado, e vigilancia que deve constantemente haver na abertura das vallas, etc. Por que fatalidade nossa naõ se cumprem?

Os exemplos apontados bastaõ para provar quaõ pouco saõ executadas as Leis entre nós; e que dahi nos vem grandes males. Seria muito para desejar que o nosso Augusto Bom Soberano se convencesse de que he infinitamente melhor cumprir leis más, do que deixar de cumprir leis boas. Da execuçaõ daquellas podem vir bens, naõ sendo o menor o habito que os Povos adquirem de respeitar sempre as Leis: da naõ execuçaõ destas naõ podem vir senaõ males, naõ sendo o menor o habito que os Povos adquirem de desprezar as Leis: e quando huma Naçaõ adquire o funesto habito de transgredir impunemente as Leis, que nada mais saõ entre nós do que a vontade expressa do Soberano, está mui proxima a perder o Santo respeito que he devido ao Legislador. Se as minhas vozes pois chegassem ao Throno, eu diria afoitamente ao nosso Bom, e Adorado Soberano – ,, Senhor, em quanto as Leis naõ forem derogadas, naõ permita Vossa Magestade que ellas sejaõ transgredidas. Saõ fataes os males que dahi vem; seja pois severa, e irremessivelmente punido todo o vassallo, que as naõ cumprir;  e tanto mais prompta, severa, e exemplarmente punido, quanto maior, e mais elevada for a qualidade do transgressor. Quando a experiencia mostrar, que a Lei naõ corresponde aos fins para que foi promulgada, derogue-a Vossa Magestade;  mas naõ tolere mais que os seus Ministros de estado dem á Naçaõ inteira o fatal exemplo de serem elles mesmos os primeiros transgressores das Leis estabelecidas, ordenando, por meros Avisos o contrario do que as mesmas Leis determinaõ. (…)

Militar Cidadaõ»

in O Investigador Português em inglaterra, Agosto de 1817



Navegação Aéria
Março 21, 2008, 11:25 pm
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Texto não dispon�vel
in Revista Universal Lisbonense, 1843

Tendo-nos sido possivel fazer gravar a aéria carruagem de vapor, que os nossos leitores estão vendo, dirigimo-nos ao Ex.mo Sr. visconde de Vilarinho; rogando-lhe nos désse uma explicação d’ella, e juntactamente a sua opinião a tal respeito. Temos a satisfação de publicar a interessante carta, com que S. Exª nos honrou.

Illmº Sr. Antonio Feliciano de Castilho
Vi com a maior satisfação e interesse o Atlas de sabado 1º de abril corrente nº881, V. 18 que V. me enviou, em que vem estampada a nova máchina de voar intitulada – The Aerial Steam Carriage – Aéria Carruagem de Vapor: o sistema, em que se funda a estabilidade séria, é por certo uma das melhores invenções do espirito humano; é não sómente possivel, mas certissimo e infallivel. Não quero dizer com isto que a dicta máchina esteja inteiramente perfeita, e que não tenha ainda muitas coisas que precisam de diversos melhoramentos; mas qual é a invenção dos homens que apparece logo perfeita? Nenhuma por certo; muitos seculos decorreram primeiro que chegasemos a ter as máchinas de vapor no estado em que as vemos, e posto que tão uteis sejam nem por isso deixam ellas de ter ainda muitos defeitos. a navegação, que levou muitos annos a aperfeiçoar, e que tem custado milhões e milhões de vidas, ainda é susceptivel de grandes melhoramentos: assim acontece a todas as artes, e a todas as sciencias; muito nos temos adiantado, muitos descobrimentos se tem feito, e muitos mais ainda se farão; porque ninguem sabe aonde estará o limite d’elles. Continuar a ler



O jornalismo no ano 2000
Março 14, 2008, 5:50 pm
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Considerando no que é hoje, observando as suas tendências, pode conjecturar-se, aproximadamente, o que virá a ser. Um curioso aprofundou esta questão e lisonjeia-se de ter descoberto, com plausibilidade, as condições em que há-de achar-se o jornalismo no ano 2000.
Há fome e sede de notícias: todos querem saber tudo – o que pode e deve saber-se e o que não pode nem deve saber-se -, a máquina reproduz em minutos o pensamento, para ser transmitido a todos os pontos da terra, e já não é só a máquina para estampar o jornal, é também a máquina para compor; inventou-se o tipógrafo-máquina e deve esperar-se, portanto, que venha a idear-se o redactor-máquina.
O jornal é hoje diário e o mais é que chega a reproduzir a mesma folha em duas ou três edições, com alguns aditamentos ou notícias. Isto será atraso e fossilismo no ano 2000. Daqui a 50 anos, os jornais publicarão uma folha, inteiramente nova, de hora a hora, e, daqui a 100 anos, de minuto a minuto, de instante a instante. Será um moto-contínuo e ainda não satisfará a curiosidade pública. Cada cidadão fará um jornal: o artigo de fundo constará sempre das notícias da sua vida pública e íntima.
Como o jornalismo assume tais proporções, talvez se pense que faltará papel, porque é necessário advertir que de cada jornal se tirarão, de minuto a minuto, milhares de folhas; mas a isto há-de ocorrer-se com facilidade, porque, assim como o jornal é instantâneo, instantânea há-de ser a leitura; e o papel vai, minutos depois de lido, para a fábrica, a fim de se reproduzir […] apenas o superfino será reservado para os brindes aos assinantes, os quais, ao cabo da sua assinatura, já possuirão uma biblioteca de 525 000 volumes, pois tantos são os minutos que tem o ano; já se vê que a cada folha acompanhará um brinde.
O telégrafo eléctrico generalizar-se-á, cada cidadão terá o seu telégrafo em correspondência mútua, de maneira que em um minuto se saberá o que se passa nos pontos mais afastados e, em Lisboa, se poderá saber, de instante a instante, até à vida caseira do mais boçal esquimó; com o que os povos hão-de folgar, deleitar-se e instruir-se.
O jornal caseiro será alheio à política; para esta haverá jornais especialíssimos e os seus redactores nem serão amigos, nem distintos, quando não forem da mesma parcialidade;quando, porém, comungarem na mesma pia (também em 2000 se darão destas), então serão inteligências robustas, caracteres provados… no que forem.
Mas como é de crer que no ano 2000 já exista a paz universal e a união entre todos os homens, acabará a política, os governos governarão sempre conforme… à nossa vontade, portanto, serão inúteis os jornais políticos; não haverá, pois, nem turibulários, nem oposicionistas; todos serão amigos e distintíssimos cavalheiros, unidos no pensamento comum de amarem a sua pátria. Assim seja.

in Jornal do Comércio, de 25-02-1868